Amanda

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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Moldar a nossa história

Há poucos dias conheci um garoto chamado Orelha-de-Pau, ele é Coreano, do século XII, e vive em baixo de uma ponte, na beira de um rio com seu amigo Homem-Garça.
Sim, esses nomes são muito estranhos, mas lembrem-se estamos falando de habitante de uma antiga Coreia.
Orelha-de-Pau é um garoto órfão que foi encontrado por Homem-Garça que cuidou do menino com carinho e dedicação, ensinando-lhe coisas que muitas vezes não são aprendidas nas melhores escolas: respeito, dedicação, trabalho...
O garoto busca alimento com cautela, não rouba nem pede esmolas, pois aprendeu que isso o faz parecer mais com um animal do que com um ser-humano. 
Tudo parece estar em harmonia, quando eles tem fome, comida, quando sentem-se sozinhos um faz companhia para o outro, e quando encontram um desafio, unem-se para vencê-lo. 
Mas Orelha-de-Pau tem um segredo... com uma frequência minuciosamente calculada ele acompanha o ceramista Min em seu trabalho de tornear a argila, transformando uma massa sem vida nas mais belas obras que o menino jamais ousou sonhar. Min não sabe que o órfão observa-o trabalhando, é melhor que ele nem desconfie, pois é severo e de poucos amigos. 
A rotina do menino muda quando ele, sem querer, quebra uma bela obra de Mine, para pagar pelo prejuízo se oferece para trabalhar para o ceramista. Começa aí sua jornada de dificuldade e aprendizados.

Qual o valor de uma obra de arte? O que a natureza pode nos ensinar? De que matéria é feito o sonho? O que define uma família? Onde está a escola que nos ensina a viver?

O livro "Por um simples pedaço de cerâmica" constrói uma narrativa emocionante que nos aproxima tanto dessas personagens que vivem na Coreia do século XII que é possível imaginar que estamos todos juntos nessa jornada, o tempo transforma-se e viver torna-se uma experiência única, partilhada por todos nós.

A arte envolve-se com o cotidiano das pessoas, a beleza é encontrada nas coisas mais simples: um ramo de flor, um pato, um macaco, um homem trançando um cesto, um mestre transformando argila em arte, dois amigos, uma raposa...

O livro nos faz compreender a importância da cerâmica para a cultura coreana, mas nos faz olhar para tudo o que está a nossa volta de maneira diferente, um vaso pode ser útil, mas também pode ser belo, um vaso pode abrigar uma flor, mas também pode nos contar uma história.

A cerâmica é uma técnica democrática e versátil, diversas culturas trabalham com a argila extraída da margens dos rios, instrumentos utilitários dividem espaço com obras sagradas e "saudações às belezas da vida".

O melhor de ter lido esse livro, foi no dia seguinte aproveitar exposição do MASP (Museu de Arte de São Paulo) "O Espectro diverso - 600 anos de cerâmica coreana". Realidade e ficção tornando a vida mais bela, mais completa. A leveza da cerâmica e sua história, curvas de uma longa estrada.

Para saber mais:
- "Por um Simples Pedaço de Cerâmica" autora: Linda Sue Park, ed. WMF Martins Fontes.
- "O Espectro Diverso - 600 anos de cerâmica coreana" de 17/08 a 25/11 no MASP, Av. Paulista, 1578 (telefone 11 -32515644)